sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ainda sobre a Carta de Quintana

Logo de início, Quintana queixa-se de não saber escrever em prosa, e de achar a teorização sobre a poesia uma prática enfadonha. Quintana nada sabe para somente saber poetizar. Nada mais ele é, do que um poeta.

O poeta, segundo Quintana, não deve escrever mirando o público da posteridade. Um poeta nem aos de seu tempo teria algo a dizer. O poeta está limitado ao seu Eu. Quintana distingue o Eu da pessoa individualizada:

 "Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano."

De algum modo, o poeta encontraria, dentro de si mesmo, a humanidade, que também é comum a todos. Em contraste ao profeta, que brada às multidões, com voz de trovão: "Eu vos trago a verdade", o poeta, timidamente, sussurra a cada pessoa: "Eu te trago a minha verdade". E assim, quanto mais individual for o poeta, mais universal será; pois, mergulhando nas profundas águas da humanidade, todos os homens - que só sabem amar ao humano - o lerão com deleite.

Mas a arca do tesouro está por vir. Quintana, antes de revelar sua mensagem esotérica, inicia devidamente o poeta com esta frase:

"A poesia é fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta pra te dizer como é que eles fazem. Só posso te dizer o que eu faço."

Quintana aponta para o lampejo, como gênese da poesia. Uma palavra, uma frase, uma imagem, "nas ocasiões mais insólitas". Ao canto da musa, outros elementos surgem, reagindo a ele: a "associação de imagens", para Quintana a maior conquista da poesia moderna.

A seguir, a materialização das atividades mentais: "vai tudo para o papel." Há um período de tempo que o poeta deve respeitar entre a escrita e o polimento do poema, período esse o suficiente para se esquecer dos versos criados. Quintana parece ver aí, no esquecimento, a benção da imparcialidade.

No polimento, "trabalho de corte", o poeta retira toda afetação e lógica do poema. O poema deve ser reduzido a sua essência, que é o poema propriamente dito. A estética pretendida por Quintana é a do cavalo, que, " por não ter nada demais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação."
(continua...)

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