domingo, 16 de junho de 2013

Monarquistas enrustidos

Compartilharam por aí um slogan inusitado: Marco Feliciano para Presidente do Brasil! Oh louco! Se evangélicos que deixam o Evangelho tivessem coerência, seriam monarquistas. Monarquia é a forma de governo perfeita. Para quem busca feiticeiro pra chefe de Estado. Os reis na Antiguidade Oriental eram feiticeiros, canais das energias divinas. Pastores cheios da unção como Marco Feliciano não combinam com uma faixa presidencial. É pouco pro ego...ops, pra unção. Melhor pedir de uma vez uma coroa, um cetro, e um manto púrpura. Só ia ficar difícil para imitar chimpanzé no púlpito com tais adereços, mas pra tudo se arranja um jeito.

O evangélico dominante - pós-pentecostal, para-protestante e meta-cristão - tem sérias deficiências de imaginação. Vi o império da música gospel e das ministrações anexar minha amada igreja materna, até o ponto de tornar meu congregar inviável. Vi um líder de jovens subir ao púlpito, num sábado, e soltar essa: "Tem gente que anda de ônibus, e fica lá, a toa, olhando pra as paisagens na janela: 'que prédios grandes!, 'que árvores bonitas!'. Quando podia estar em oração! Lá, intercedendo pelos seus familiares..." Já encontraste dentre esses chorões um poeta? Muito difícil  Quem priva sua mente do silêncio, da contemplação, do mero divagar, somente agindo e fazendo coisas "úteis", perde a capacidade de imaginar, de inventar, de criar.

O atrofiamento da inventividade joga a pessoa no mar do pensamento uniforme. A maré é implacável. É gente falando igual e se vestindo igual. Vocabulário pobre de palavras e de sentidos. Gestos e manias copiados e espalhados no melhor estilo viral. Sabe qual é o símbolo do Fascismo? Um feixe de gravetos. Um graveto sozinho pode ser quebrado. O feixe, não. A força da união. Uniformidade de pensamentos, de palavras e de ações. Isto é Fascismo. As ovelhas de Feliciano sabem disso? Não sabem, e é bom que continuem assim. 

Felicianianos dizem que quem está contra o seu papa está a favor dos homossexuais, e assim, contra Deus. Questionam a Laicidade, a separação entre Estado e religiões em nome da pluralidade humana. Os protestantes lutaram com muito empenho pela Laicidade, a fim de conquistar a liberdade de culto. Judeus eram bem vindos a Laicidade. A primeira sinagoga a funcionar nas Américas foi a Kahal Zur Israel, na Recife do Nordeste holandês, protestante. É verdade que os holandeses destruíram Igrejas católicas, mas o feito de abrigar judeus é notável.


Não são assim os felicianianos, que de protestantes não têm um fio de cabelo. Atacam às religiões africanas, aos católicos e a todo aquele que não for felicianiano.E aos homossexuais. Podemos até discordar de certas reivindicações, mas o Estado é para todos. Homossexuais poderem se casar no civil não é de nossa conta. E ser ignorante da violência sofrida pelos homossexuais, numa cultura ainda tão machista e retrógrada que há neste País das Variedades, é coisa de quem vive no País da Lua.


Protestantes não eram necessariamente anti-monarquistas, mas predispunham-se pela República. O governo republicano, da burguesia progressista, distante das mãos da nobreza católica, era o ideal de Genebra. É claro que o Iluminismo ainda teria muito de lapidar a res publica ainda tão bruta dos protestantes primordiais, mas Calvino e os Reformadores abriram portas decisivas para o governo do povo.


Por isso eu disse no início: evangélicos apóstatas do Evangelho, felicianianos, não têm coerência nem em seus ideais. Se fossem coerentes, seriam monarquistas. Seus ideais políticos ridículos não cabem na República e na Laicidade. Na verdade, nem em Monarquias parlamentaristas é cabível, como Inglaterra, Suécia, Japão. Os ideais felicianianos são coisa de uma boa e velha monarquia oriental. Reis-feiticeiros, adorados pelos súditos. Já está mais do que na hora de se sair do armário republicano, e se assumir de uma vez a Monarquicidade. Dá pra dar um glória a Deus aí, vossa majestade feliciana?


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