segunda-feira, 10 de junho de 2013

Jovens nas ruas

Por Juremir Machado da Silva, em sua coluna diária no Jornal Correio do Povo, edição de hoje.

Criticavam os jovens por só quererem jogar videogames e namorar nos shopping centers. Os mais velhos e politizados recorriam a uma palavra pré-histórica para chicotear essa juventude conformista: alienação. Os jovens estão nas ruas. Enfrentaram o aumento de passagens de ônibus em Porto Alegre, Goiânia e São Paulo. Foram combatidos violentamente pelas forças progressistas da ordem. Receberam duras e contraditórias críticas: desordeiros, manipulados por partidos políticos, militantes radicalizados e irresponsáveis. Escrevo este texto depois de ter lido sobre a morte de Pierre Mauroy, o primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro num governo socialista na França, em 1981, na presidência de Mitterrand. Pierre e François queriam "mudar a vida".

Os jovens brasileiros que, com alguns exageros típicos das manifestações de massa, incomodam governos municipais de esquerda, como em São Paulo, também querem mudar a vida. Mauroy desejava colocar mais azul no céu. Era um tempo em que ainda não se falava em fim da história nem em decadência das utopias. Em 1984, ele pediu demissão. O socialismo francês encolheu, o comunismo do Leste Europeu bateu as botas sem deixar saudades, o neoliberalismo teve seus dias de glória e capotou com a crise de 2008. Os jovens saíram dos centros comerciais, das redes sociais e dos games para defender um pouco mais de azul nos céus das pátrias.

Um jovem que não experimenta sair às ruas para tentar mudar o mundo, ainda que modestamente, perde um pouco do que o mundo lhe reserva como experiência existencial. Não deixa de ser divertido ver a Polícia de São Paulo, em defesa do prefeito mauricinho Fernando Haddad, poste de Lula, baixar o pau para tirar das ruas uma juventude incômoda e excessivamente politizada. Os jovens estão cansados de gente de meia idade ou idade avançada com bom senso desmedido. É em nome da sensatez que se quer tomar as terras dos índios em Mato Grosso do Sul, trocar árvores por asfalto em Porto Alegre, espancar manifestantes por toda a parte e não perturbar a paz dos torturadores do regime militar com as investigações da Comissão da Verdade. Só a insensatez dos jovens salva.

O excesso de sensatez é o mal de Alzheimer dos políticos e dos empresários preocupados exclusivamente com a saúde dos negócios. Os jovens de hoje são tão maravilhosamente insensatos que praticam a infidelidade partidária. Colocam as suas causas e convicções acima dos partidos, A fila anda. A irresponsabilidade dessa juventude é tamanha que eles exigem saber quanto lucram as empresas de ônibus que lhes prestam os maus serviços de todo dia. A inconsequência desses jovens é tanta que colocam a defesa do meio ambiente acima dos interesses do desenvolvimento econômico e não se impressionam facilmente com o argumento prêt-à-porter da criação de empregos. Querem provas, números, demonstrações, dados.

Definitivamente, essa galera das redes sociais é muito perigosa. Quer botar mais azul nos céus dos negócios. Por falta de experiência, acha que se pode mudar a vida. Por insensatez, entende que o interesse público é maior.

Uma salva de palmas para nosso cronista serial killer! Juremir Machado da Silva, franco-atirador, de francófilas idéias!

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