quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sobre a Carta de Mario Quintana a um poeta

A composição do Cânon bíblico é assunto mais ou menos recorrente, nesse mundo pós-moderno onde teorias da conspiração brotam com xuxos nas cercas. Basta a leitura descompromissada de um romance dito revolucionário, dito histórico, dito filosófico, e lá saem ao mundo mil doutores do assunto, formados em plena leitura. "O Cânon foi manipulado pela Igreja", "Os evangelhos gnósticos são os verdadeiros", "Os primeiros cristãos eram gnósticos", e mais alguns colóquios infindáveis.

Apiedo-me do bom Leonardo Da Vinci - para mim, o segundo maior homem depois de Cristo. Certamente Da Vinci tinha seus enigmas, seus códigos. Mas tais foram profanados pela sempre sacrílega e nunca sincera exposição midiática. Eu sei: já faz uma década desde que Dan Brown revelou ao mundo a obra que o afamou. Mas não podia deixar-me de lembrar disso, dado o assunto deste pequeno ensaio.

Eu tenho um candidato melhor para integrar o cânon bíblico: a "Carta" de Mario Quintana, o Poeta das Coisas Simples, endereçada a um poeta anônimo.

Minha sugestão não é por motivos doutrinários; é por motivos poéticos. Nada tem a ver com os Manuscritos do Mar Morto, ou com os Manuscritos de Nag Hammadi - os quais Dan Brown alegremente mistura - tem a ver, sim, com algo místico presente naquela Carta, somente semelhante a sacralidade dos textos bíblicos. A essa propriedade mística, poderíamos dar vários nomes. Eu aprecio "Palavra de Deus".

A Carta de Quintana é, para mim, o mais bem feito e sucinto tratado a respeito da criação poética, e por extensão, da criação artística em geral.

Na Carta, Quintana não deixa devendo a um Apóstolo:  reconhece-se homem falível ante a Divindade, recita o Mistério com temerosa devoção, usa imagens bíblicas e a elas interpreta.  (continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário